quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Até sempre, Wally...

Meu amigo Wally: 
Um dos meus últimos textos aqui foi sobre ti... sobre a tua velhice e como era tão mas tão lixada essa velhice... A velhice é tão, mas tão, lixada...
Na altura, tinha a noção que o teu fim estaria perto e que só me restava tratar-te com todo o apoio e carinho que me era possível... Foi o que fiz, até ao último segundo...

O momento que eu mais temia acabou por chegar... já foi quase há dois meses... Tive que tomar uma das decisões mais difíceis da minha vida e custou... Custou-me tanto, nem imaginas... Nunca pensei passar por isso e que me pudesse custar tanto...

A decisão teve que ser tomada, o sofrimento era brutal, tanto teu como meu... Nos últimos dias da tua vida, deixaste de comer, recusavas-te a comer qualquer iguaria que fosse, até mesmo aquelas que mais gostavas... já tinhas feridas que não saravam com nada... já não te levantavas sozinho, usavas fraldas, tinha que te dar soro todos os dias... e tinhas o olhar triste... o que me deixava ainda mais triste, cada vez que cuidava de ti... tu desististe e acabei por desistir também...

Não podia deixar prolongar mais todo aquele sofrimento, por mais que eu quisesse, não conseguia melhorar o teu estado de saúde e tu estavas a perder as tuas forças... E eu estava a perder as minhas... Eu estava exausta, mas não estava a conseguir deixar-te partir, não queria, não queria que me deixasses, por mais exausta que eu estivesse, achava que eu poderia tratar de ti, que iria conseguir que ficasses bom... sim, no fundo, acho que ainda tinha uma esperança que pudesses ficar bom... e fiz tudo o que pude para que isso acontecesse...

Partiste no dia 2 de dezembro de 2014... Foi um dos dias mais tristes da minha vida e ainda hoje me correm lágrimas sempre que penso nesse momento...

Passei as tuas últimas três noites ao teu lado... Fiz uma caminha para mim ao lado da tua e lá fiquei, pouco ou nada dormi e estava exausta, mas não te podia deixar sozinho, pois tu queixavas-se e parecia que só acalmavas quando te dava a mão... e foi nesses momentos que tive que tomar uma das decisões mais difíceis da minha vida... já não estava a dar para aguentar mais... já nenhum de nós dois estava a aguentar...

Na tua última noite mal dormi, estive sempre com a tua pata na mão, como que a despedir-me... sabia que era a última vez que estaria ali contigo... de manhã chegou o momento de te levar e custou, custou muito... 

Estive contigo até ao último segundo... até ao último suspiro... Enquanto esperávamos que a veterinária chegasse, estiveste sempre ao meu colo... os teus donos vieram despedir-se de ti e suspiraste, parecia que sabias que eles estavam ali para se despedir... e se calhar sabias... mas eles não quiseram ficar, não conseguiram... o teu dono ficou connosco até ao último momento... tu fazias parte da nossa família... todos estávamos tristes com toda aquela situação... mas sabíamos que era o melhor, era o que tinha que ser feito... tinhamos feito tudo o que estava ao nosso alcance e, por mais que nos custasse, a todos, essa era a decisão a ser tomada naquele momento... custou, custou muito... mas fiquei contigo até ao fim...

Nesse dia não fui trabalhar... Depois de te deixar, adormecido, não tive coragem de ir para casa...  Quando fui para casa, já o dono tinha tirado a tua caminha e os teus pertences, que mais tarde foram entregues na União Zoófila... foi horrível chegar a casa e sentir a tua falta e saber que já não estarias mais ali comigo... felizmente, eu fiquei naquela casa poucos dias, pois tudo coincidiu com o processo de mudança de casa e eu tinha o pressentimento que tu já não irias acompanhar-me nessa mudança e acertei... acabou por ser toda uma mudança na minha vida, não foi só de casa... custou muito... ainda está a custar... e vai custar sempre! Sair daquela casa iria trazer-me menos memórias, não teria que estar no espaço onde a tua presença era constante e talvez custasse menos... 

Mas, ainda hoje, mesmo noutra casa, não há um dia em que não me lembre de ti... nos primeiros dias, dava por mim a pensar que tinha que ir depressa para casa para cuidar de ti, mas afinal já não era necessário... ainda dou por mim a fazer determinadas coisas habituais que fazia quando tu estavas e que agora não são necessárias... ainda encontro muitos pêlos teus em casacos ou camisolas (a saga dos pêlos continua!)... ainda penso duas vezes quando estou na cozinha a preparar alguma iguaria que tu adoravas roubar... ainda deixo de fazer determinadas coisas a pensar que ainda te tenho ali comigo... ainda me controlo a gritar quando o Sporting marca golo, por exemplo, porque sabia que irias desatar a ladrar logo a seguir... sinto falta disso (não dos golos, mas do teu ladrar a seguir!)... tudo me traz recordações tuas e a saudade é cada vez maior...

Tenho pensado muito em ter outro cão... nunca te iria substituir, dizem que iria ajudar a suportar a tua ausência e acredito que sim, mas por enquanto não consigo... acho que preciso de tempo, para poder fazer o meu luto, talvez...

Foram quase 17 anos, estiveste presente nos bons e maus momentos... Fazes-me muita falta, Wally... estarás sempre no meu coração... nunca serás esquecido!

Até sempre, Wally!